A maior parte dos PCDs com lesão medular apresentam problemas no controle normal da bexiga. Pode ocorrer incontinência urinária, dificuldade para urinar espontaneamente, infecções urinárias de repetição ou formação de pedras na bexiga.
Com a incontinência somos obrigados a passar uma sonda uretral de alívio, de 4 em 4 horas, para esvaziar completamente o resíduo de urina que fica na bexiga. Mesmo com todos os cuidados, inclusive de assepsia, temos algumas ou muitas infecções e, em casos graves, se não fizermos um tratamento urológico adequado, os problemas da bexiga e as infecções podem levar ao comprometimento dos rins.
Atualmente podemos optar em fazer uma Cirurgia de Ampliação vesical com derivação ou a chamada Cistostomia. Nada mais é do que uma cirurgia de derivação urinária onde se “constrói” um desvio e uma nova forma por onde passar a sonda. O objetivo é possibilitar a drenagem.
Para tanto, também é necessário fazer uma ampliação vesical (aumento do tamanho da bexiga) onde pode ser utilizado o apêndice (princípio de Mitrofanoff) ou um segmento intestinal reconfigurado.
Fonte: https://drcristianogomes.com.br/disturbios-associados-a-doencas-neurologicas/
Depoimento Claudia Vidigal:
Contarei minha experiência: tenho 29 anos de lesão e há 11 anos soube desta cirurgia nos Estados Unidos quando conheci uma tetra que havia feito e achei incrível! Pois ela não precisava deitar ou voltar para casa e passar a sonda que era o meu caso.
Então, assim que voltei para o Brasil, marquei meu urologista para também saber mais a respeito e realizar este procedimento. No meu caso foi feito ampliação com parte do intestino e também a derivação.
Na verdade achei que seria mais simples, mas foram mais de 6 horas de cirurgia, com muitas Intercorrencias no pós operatório como trombose porque fiquei muito tempo sem poder me exercitar. Depois tive também uma vermelhidão nos pontos e orientação que os pontos externos fechariam mais rápido e a cicatrização interna demoraria aproximadamente 1 ano para fechar completamente. Também no início tinha muito vazamento pelo canalzinho o que me levou a usar até hoje um pequeno absorvente na derivação (que chamo de “buraquinho”) porque hoje em dia se demoro muito tempo para sondar, às vezes, tenho um escape de urina.
Minha derivação não ficou no lugar que eu pedi para o médico pois eu queria que ficasse junto ao umbigo porque o maior intuito desta cirurgia era que eu mesma pudesse me sondar….porém, o médico me disse que meu assoalho pélvico estava bem comprometido e que não deu para fazer…. Assim o buraquinho ficou bem para meu lado direito e muito baixo…. como meu abdomen é bem distendido, não consigo passar a sonda sozinha porque teria que “puxar e segurar” a barriga ao mesmo tempo com as duas mãos, uma da qual colocaria a sonda…
Com o tempo minha bexiga retraiu e não ficou com a capacidade que havia ficado no início. A capacidade inicial era de 500ml depois ela retraiu um pouco para 300ml e, mesmo assim, ficou três vezes maior do que eu tinha antes (100ml ). Agora eu não perco mais xixi pela uretra e é um grande alívio. A recomendação é passar de 4 em 4 horas para não haver perda, só que dependendo da quantidade de líquido ingerida, tenho que passar em menor tempo.
Eu recomendo a cirurgia e demorei muito tempo para fazer porque a gente fica querendo manter o corpo intacto na esperança do milagre e voltar andar O risco de ter infecção é bem menor e eu passei a ter quase nenhuma infecção. Posso ingerir líquidos que antes evitava.
Foi uma das melhores coisas que eu fiz até hoje pois me dá liberdade para eu ficar na rua o dia inteiro. Posso passar a sonda em qualquer lugar (dentro no carro, na rua quando não encontro banheiro adaptado, no banco do avião em que sento, e também em casas onde não há banheiro com portas largas para entrar com a cadeira).
Mais independencia dentro das nossas limitações!